Em 2012 comemoramos os 800 anos do Carisma Clariano. O franciscanismo poderia muito bem viver sem Clara, mas não seria o mesmo! Clara foi a parte contemplativa e reclusa do ideal de Francisco, de fazer do mundo um Grande Convento e pregar Jesus e sua vida a todos os seres, que são seus irmãos.
Clara foi amiga de Francisco como todos já sabem. Muitos dizem que havia um "amor platônico", um romance.... quanta bobagem e pobreza de espírito! O amor platônico supõe o desejo sexual, o amor erótico, só que vivido apenas no plano das idéias, da fantasia. O amor espiritual, não. Ele passa por outras vertentes, é o querer bem, ver a vida como o outro a vê, olhar na mesma direção, se entender sem precisar de palavras.
Entre Clara e Francisco havia um forte vínculo humano, mas de tipo paterno e filial e não esponsal. Francisco chamava Clara de "plantinha" e Clara o chamava de "nosso pai". Assim foi o amor de Clara e Francisco, eles olhavam na mesma direção, olhavam para Deus, para Jesus Cristo, horizonte de tudo o que existe.
Frei Raniero Cantalamessa citou a cena da Série "Francisco e Clara" que foi exibida na Rai Uno (TV italiana) como a síntese de toda a relação entre Clara e Francisco e sentido do carisma de nossa família franciscana:
"Francisco caminha em um prado, Clara o segue introduzindo seus pés, quase brincando, nas pegadas que Francisco deixa e, diante da pergunta dele: 'Estás seguindo minhas pegadas?' responde luminosa: 'Não, outras muito mais profundas'.
CLARA
DE ASSIS, UTOPIA FECUNDA NO PRESENTE
Pessoas
sem projetos, sem sonhos, sem utopias, nada construirão absolutamente. Os
sonhos são decisivos para a mudança de uma realidade pessoal ou social.
Cultivar
uma utopia é sempre caminhar para frente. CLARA DE ASSIS foi na sua história,
fonte generosa de uma grande utopia esta só motiva quando desce ao coração
tornando-se
força motriz de transformações.
Nosso
presente carece de utopias... quem será capaz de captar as angústias e
esperanças de tantos homens e mulheres e dar-lhes uma resposta?
Essa
jovem mulher distante de nós no tempo se agiganta à nossa frente como
capacidade criadora, capaz de transmitir espírito e a contagiar simpatia e sã
alegria. Sua vida foi e continua sendo uma resposta de liberdade, profundidade
e vida.
Nesse
mundo tão cheio de desigualdades e desequilíbrios, com seus ídolos, com sua
escalada de violência, tão longe da paz e de Deus, o rosto de Clara é uma luz a
iluminar os direitos fundamentais da pessoa humana avançando sempre mais na
criação e ampliação de novos espaços.
Nela
a UTOPIA superou a desintegração e realizou a integridade.
Nela
não deixou morrer a seiva da liberdade, criatividade, ousadia e profetismo.
Nela
deixa a "estrada oficial" para caminhar na contramão da história.
Nela
desinstala-se e põe-se a caminho para servir à vida.
Nela
rompe o silêncio da vida fácil para viver a experiência da solidariedade.
Nela
encontra a "perfeita alegria" no dom de oferecer a própria vida.
Nele
põe-se a caminho rumo a novos horizontes.
Nela
mantém viva a esperança que dá sentido á vida.
Nela
a utopia evangélica teve lugar.
Nela
tornou real a fraternidade franciscana estar verdadeiramente a serviço da
autoridade.
Nela
a liberdade pessoal contrastou com o sistema social vigente.
Nela
sempre esteve a caminho rumo à meta de seu ideal.
Nela
encontrou espaço para colocar tudo em comum, sobretudo a própria vocação, o
projeto evangélico e a própria liberdade.
Nela
tornou concreta e verdadeira a renúncia a qualquer tipo de posse.
Nela
foi possível a "santa simplicidade"se tornar um modo de existir.
Nela
a nupcialidade foi vivida nas dimensões materna e "sorelal".
Nela
a experiência contemplativa tornou-se relação vital e concreta.
Nela
o Cristo Jesus é "o mais belo entre os filhos dos homens".
Nela
"irmã morte" tornou-se um encontro e uma nova possibilidade.
(Ir.
Maria Vilani Rocha de Oliveira, FHIC)
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