terça-feira, 10 de junho de 2014

Cortesia

                               


“Mansidão, gentileza, paciência, afabilidade mais que humana, liberalidade que ultrapassa seus recursos eram sinais de sua natureza privilegiada que enunciavam já uma efusão mais abundante ainda da graça divina nele”.(Legenda Maior1,1)

“E onde quer que os irmãos estiverem e se encontrarem, tratem uns aos outros como membros de uma só família. Se uma mãe ama e nutre seu filho carnal, quanto maior diligência não deve cada um amor e nutrir seu irmão espiritual”
(São Francisco, Rb 6,7)

Falemos da CORTESIA
Quem viveu a realidade e a fantasia das legendas cavalheirescas, conhece o reino da cortesia. É muito difícil dar uma definição exata, pois é todo um vasto mundo de significados…
Mas o que é CORTESIA?
* Não é etiqueta
* Não são normas
de civilidade
* Não é um manual
de boas
maneiras
CORTESIA
• É a maneira como o outro (a) deve ser amado
(a) de um modo verdadeiro.
• É um relacionamento de respeito, retidão e
sinceridade.
• É acolher o outro e a outra na sua grandeza.
• É colocar a pessoa num acolhimento de
bondade, num clima de bondade para que se torne uma pessoa boa.
• É deixar transparecer uma serenidade
existencial.
• É um tratamento seguro e amável que eleva a
pessoa.
• É o cuidado com as palavras. Uma palavra dita
de um modo sereno e humano motiva e recupera o humano.
• A cortesia é uma virtude tipicamente
franciscana!
Para compreender como as atitudes do jovem Francisco de Assis causavam um grande impacto é necessário não esquecer o seu tempo cheio de ódios, lutas e cobiça.
Mesmo ali mandava a lei do mais poderoso e competitivo. Alguma diferença com os dias de hoje?
Neste contexto Francisco apresenta uma proposta nova relacionamento mais prático. Em muitos casos a cortesia dos nobres permanecia apenas nas canções; a de Francisco era prática, imediata, desinteressada.
Francisco tinha sonhado repetir as empresas de Carlos Magno, do Rei Artur e os Cavaleiros da Távola Redonda. Depois da sua conversão não renega aqueles que foram seus ideais de juventude, e com a sensibilidade poética que foi um de seus dons, soube colher os aspectos mais nobres da cavalaria, para fixar-lhes uma nova ordem, em que o perdão substitui a vingança,
o amor substitui o ódio, o espírito de dedicação, o orgulho, a sede de paz e de justiça, os saques e acúmulos, a humildade, a pressão do comando.
“Sua boca falava da abundância do coração, e a fonte de amor iluminado que enchia todo o seu interior extravasava”(2 Cel, 84)
PAZ E BEM!
 
CORTESIA é hoje uma expressão de espírito necessária diante do momento conturbado que vivemos, criando tranquilidade para se tomar qualquer decisão que a vida propuser. Ela reluz através de gestos de fraternidade, mansidão, gentileza, paciência, afabilidade e serenidade.
 
 
REFLITA
• Ser cortês é um modo de comportar-se diante do ser humano; às vezes é a forma de enfrentar o lado sombrio do ser humano, sabendo tratar o outro nas suas diferenças.
• Você desconcerta-se diante do pobre, marginal, feio, sujo, aleijado?
• Você é feliz por ser pessoa humana, jovem, capaz de vibrar sempre, com o mesmo ânimo, nos momentos de dor e alegria ?
• Você é sensível a tudo e a todos, isto é, você está de olho nas situações grandes e pequenas da vida?
• Você é feliz? Alegre? Manifeste sua alegria para esta sociedade tantas vezes fechada, tensa, medrosa e consumista.
Impresso publicado pela Pró-Reitoria Comunitária da USF
Criação: Frei Vitório Mazzuco.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Santo Antônio entre milagres e lendas

          Neste mês comemoramos um santo muito querido pela espiritualidade franciscana, SANTO ANTÔNIO! Também como nosso pai seráfico São Francisco, é conhecido como "Pai dos Pobres", por estar sempre ao lado dos necessitados,  seja através da assistência material de acordo com as parcas possibilidades da Ordem, seja com suas pregações veementes aos poderosos exortando-os a mudar de comportamento. Porém, era também um grande intelectual e tinha uma memória invejável, daí ser conhecido  como "Doutor da Santa Igreja" e por saber a Sagrada Escritura de cor (assim diz a tradição) chamam-no de "Arca do Testamento". Aqui em Teresópolis temos a paróquia deste santo, com uma bela trezena e participação dos Frades Capuchinhos (Ordem I) e da Ordem Franciscana Secular. (Eliane, OFS)

Entre milagres e lendas

A vida de Santo Antônio está envolta numa constelação de milagres e fatos prodigiosos: são curas, profecias, bilocações, exorcismos e até ressurreições. Muitos teriam acontecido durante sua vida e outros, numa cadeia incontável, depois da morte. Esta tradição já está consagrada no antiquíssimo responsório “Si quaeris miracula”:
Se milagres desejais
Contra os males e o demónio,
Recorrei a Santo António
E não falhareis jamais.
Pela sua intercessão
Foge a peste, o erro e a morte,
Quem é fraco fica forte,
Mesmo o enfermo fíca são.
Rompem-se as mais vis prisões,
Recupera-se o perdido,
Cede o mar embravecido
No maior dos furacões.
Penas mil e humanos ais
Se moderam, se retiram:
Isto digam os que viram,
Os paduanos e outros mais.
Grande número desses milagres foram imortalizados por artistas, famosos ou populares, entre os quais, a pregação aos peixes em Rimini; o coração do avarento encontrado no cofre; a mula em adoração diante do Santíssimo; o recém-nascido que fala em favor da mãe inocente; o pé decepado que o santo une à perna, etc.
E difícil dizer com certeza por onde passa a linha divisória entre a verdade histórica e a fantasia religiosa; tanto mais que boa parte desses milagres só vêm relatados em legendas tardias, certamente eivadas de elementos lendários. Mas nem tudo é tardio.
Poucos meses depois da morte de Antônio, um documento, assinado pelo Bispo diocesano e os professores da Universidade de Pádua, é apresentado ao papa Gregório IX pedindo sua canonização.
No extenso relatório são elencados os inacreditáveis milagres que vinham ocorrendo desde a morte de Antônio, ocorrida meses antes: são inúmeras curas, entre elas, cinco paralíticos, sete cegos, três surdos, três mudos, dois epilépticos, etc. “São poucos entre os muitos, e os mais seguros entre os conhecidos”, destaca a legenda Assídua, acrescentando que, no dia dos funerais do Santo, muitos enfermos deixados fora da Igreja, na praça, foram curados aos olhos de todos.
A fama de tantos milagres constitui um dos incentivos mais fortes ao culto de Santo Antônio. Um antigo sermonista tentou interpretar esses prodígios no prisma da simbolização. Cada milagre teria um conteúdo simbólico.
Assim, no caso da criança afogada que o santo recupera, se afirma o poder de sua intercessão para devolver a vida do espírito a quem a perdeu; no caso da barca naufragada que ele socorre, se afirma o poder que tem para fazer emergir do pecado os que nele naufragaram. E assim por diante.
Aliás, a própria lenda tem seu jeito de dizer a verdade, simbolicamente, um pouco à maneira do provérbio que diz: “Onde tem fumaça tem fogo”. Mas não se deve exagerar o sentido milagreiro da devoção antoniana.
O povo que vai ao Santo não vai, sem mais, em busca de milagres. Sobretudo não vai para pedir milagres impossíveis ou coisas absurdas. O que pede são geralmente as coisas normais da vida: o alimento, a saúde, a casa e o casamento, um emprego bom com salário digno, a paz e harmonia na família, a ajuda para encontrar coisas perdidas ou superar situações difíceis; enfim, o milagre de uma vida normal, do jeito que Deus pensou e quer, mas que hoje está cada vez mais difícil. É este o maior milagre do santo e também o mais desejado de todos.
Devoções, tradições e crençasAs primeiras manifestações de culto deram-se logo após a morte do santo, desdobrando-se depois, passo a passo, numa constelação de práticas, devoções e crenças, algumas das quais, mais conhecidas, são elencadas a seguir.
Santo casamenteiro
Assim é invocado pelas moças que desejam casar e assim é lembrado pelo nosso folclore. Não se sabe qual a origem da devoção. Talvez se ligue a algum milagre feito pelo santo em favor das mulheres, por exemplo, quando fez um recém-nascido falar para defender a mãe acusada injustamente de infidelidade pelo pai.
Mas há outro episódio com explicação mais direta. Certa senhora, no desespero da miséria a que fora reduzida, decidiu valer-se da filha, prostituindo-a, para sair do atoleiro. Mas a jovem, bonita e decidida, não aceitou de forma alguma. Como a mãe não parasse de insistir, ela resolveu recorrer à ajuda de Santo Antônio. Rezava ela com grande confiança e muitas lágrimas diante da sua imagem quando das mãos do Santo caiu um bilhete que foi parar nas mãos da moça. Estava endereçado a um comerciante da cidade e dizia: “Senhor N…, queira obsequiar esta jovem que lhe entrega este bilhete com tantas moedas de prata quanto o peso do mesmo papel. Deus o guarde! Assinado: Antônio”.
A jovem não duvidou e correu com o bilhete na mão à loja do comerciante. Este achou graça. Mas vendo a atitude modesta e digna da moça colocou o bilhete num dos pratos da balança e no outro deixou cair uma moedinha de prata. Mas qual! O bilhete pesava mais! Intrigado e sem entender o que se passava, o comerciante foi colocando mais uma moeda e outras mais, só conseguindo equilibrar os pratos da balança quando as moedas chegaram a somar 400 escudos. O episódio tornou-se logo conhecido e a moça começou a ser procurada por bons rapazes propondo-lhe casamento, o que não tardou a acontecer, e o casamento foi muito feliz. Daí por diante, as moças começaram a recorrer a Santo António sempre que se tratava de casamento.
Santo das coisas perdidas
Esta tradição é antiquíssima, encontrando-se menção dela no famoso responsório “Si quaeris miracula”, extraído do ofício rimado de Juliano de Espira. Popularmente o “Siquaeris” é mencionado como uma oração taumaturga para encontrar objetos perdidos. A crença pode estar ligada a episódios como este, da vida de Santo António. Quando ensinava teologia aos frades em Montpeilier, na França, um noviço fugiu da Ordem levando consigo o Saltério de Frei António, com preciosas anotações pessoais que utilizava nas suas lições. Rezou o santo pedindo a Deus para dar jeito de reaver o livro e foi atendido deste modo: Enquanto o fugitivo ia passando por uma ponte, foi subitamente tomado pelo pavor, parecendo-lhe ver o demônio na sua frente que o intimava: “Ou você devolve o Saltério ao Frei António ou vou jogá-lo da ponte para o rio!” Assustado e arrependido, o jovem voltou ao convento com o saltério e confessou ao Santo sua culpa.
O “pão dos pobres”
É ao mesmo tempo uma piedosa devoção e uma instituição assistencial benemérita. Consiste em doações para prover de pão os pobres, honrando assim o “protetor dos pobres” que é Santo António. Uma tradição liga esta obra ao episódio de uma mãe cujo filho se afogou dentro de um tanque mas recuperou a vida graças a Santo António. Ela prometera que, se o filho recuperasse a vida, daria uma porção de trigo igual ao peso do menino. Por isso, no começo, esta obra foi conhecida como a obra do pondus pueri (peso do menino). Outra tradição relaciona a obra do pão dos pobres com uma senhora de Tbulon, chamada Luísa Bouffier. A porta do seu armazém tinha enguiçado de tal modo que não havia outro remédio senão arrombar a porta. Fez então uma promessa ao Santo: se conseguisse abrir a porta sem arrombá-la, doaria aos pobres uma quantia de pães. E deu certo. Daí por diante, as petições ao Santo foram se multiplicando em diferentes necessidades.Tbda vez que alguém era atendido, oferecia certa quantia de dinheiro para o pão dos pobres. A pequena mercearia de Luísa Bouffier tornou-se uma espécie de oratório ou centro sócial. A benéfica obra do “pão dos pobres” teve extraordinário desenvolvimento, com diferentes modalidades, e hoje é conhecida em toda parte.
Trezena
E uma “novena” de 13 dias lembrando a data da morte de Santo António. Também se lembra o dia 13 de cada mês, porque “Dia 13 não é dia de azar, é dia de Santo António”. Outros lembram Santo António nas quartas-feiras, dia em que foi sepultado.
Breve de S. Antônio
Consiste numa medalha ou imagem do Santo que se leva consigo, com esta sentença escrita no verso: “Ecce Crucem Domini, fugite partes adversão! Vicit Leo de Tribu Juda, radix David. Alleluia, alleluia!” (Eís a Cruz do Senhor, afastai-vos forças adversas! Venceu o Leão da tribo de Judá, da raiz de Davi. Aleluia, aleluia). Esta sentença teria sido revelada pelo Santo a uma senhora que estava possessa, a fim de ser por ela libertada. É uma devoção que remonta ao século XIII.
Extraído dos Cadernos Franciscanos, “Santo Antônio e a devoção Popular”, de Frei Adelino Pilonetto, ofmcap.
 
 
PROGRAMAÇÃO DA TREZENA EM NOSSA PARÓQUIA
 
31/05 - abertura da trezena - Nossa Senhora, mãe de todas as mães - Mons. Paulo Daher
 
Junho

 
01 - Santa Teresa, grande doutora e reformadora - Pe. Michel
02 - Santo Tomás de Aquino, Doutor Angélico - Pe. Anderson
03 - Santa Rita de Cássia, socorro dos aflitos - Pe. Carlos Henrique
04 - São Thomas More, modelo de fidelidade à igreja - Pe. Luiz Carlos
05 - São Maximiliano Kolbe, defensor da família - Pe. Tiago José
06 - Beata Teresa de Calcutá, exemplo de caridade - Pe. Celestino
07 - São Felipe Néri, sorriso de Deus - Pe. Fabiano
08 - São João Paulo II, o amigo dos jovens - Pe. Francisco Montemezzo
09 - São João XXIII, o Papa Bom - Pe. Adenilson
10 - Santa Maria Goretti, exemplo de pureza - Pe. Agnaldo
11 - São José de Anchieta, missionário do Brasil - Pe. Alan
12 - Santo Antônio, pregador da Palavra e padroeiro dos namorados - Pe. Thiago de Freitas
 
13 - Missas:  08h30min - Pe. Jorge e Pe. Diego
                      11h - Dom Gregório Paixão
                      17h - Pe. Jorge e Pe. Diego (logo após procissão) 
 
obs. haverá distribuição dos pãezinhos bentos em todas as Missas e festa com barraquinhas durante todo o dia.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Vídeo vocacional do Noviciado Capuchinho de Teresópolis

Vamos ver e divulgar o vídeo vocacional de nossos irmãos da 1ª Ordem!

Amizades de São Francisco

         Encontrar uma verdadeira amizade é, segundo as Escrituras, encontrar um tesouro. Na sua vida, São Francisco experimentou o significado de tão belo ensinamento. De fato, ele pôde contar sempre com a amizade de Clara, de Frei Leão e de vários outros companheiros. Falaremos agora sobre a amizade de Francisco com duas mulheres de Roma: Jacoba e Praxedes.
 
                                                      Jacoba de Settesogli
No Tratado dos Milagres, o Frei Tomás de Celano nos oferece algumas informações sobre esta amiga do seráfico pai: “Jacoba de Settesogli, ilustre, seja por sua nobreza, seja por sua santidade, na cidade de Roma, merecera o privilégio de uma afeição toda particular da parte do santo” (3Celano 37,1).

Estando gravemente enfermo, e sabendo que iria morrer em breve, o pai Francisco mandou escrever uma carta à Senhora Jacoba “comunicando-lhe que se apressasse, caso desejasse ver aquele a quem tanto amara, o exilado, que estava para retornar à sua pátria” (3Celano 37,3). Antes do mensageiro sair com a carta, chega uma comitiva com a Senhora Jacoba para visitar o santo. Ele se alegrou de tal forma que disse aos frades: “Bendito seja Deus, que nos enviou o nosso irmão, Senhora Jacoba! Abri as portas e introduzi-a, pois o decreto que proíbe a entrada de mulheres não vale para Frei Jacoba” (3Celano 37,8-9).
Um detalhe importante é descrito por Celano: “Tudo quanto a carta pedia que fosse trazido para as exéquias do pai esta santa mulher o trouxera. Um pano cinza para cobrir o corpo moribundo muitas velas, um sudário para cobrir o rosto, um travesseiro para a cabeça, e mesmo algumas iguarias de que o santo gostava. Tudo o que o espírito desse homem desejara Deus havia trazido” (3Celano 38,3). O biógrafo diz que a presença desta nobre senhora “deu mais força ao santo, e havia a esperança de que ele viveria ainda um pouco mais” (3Celano 38,6).

Poucos dias depois morre o santo pai. A senhora Jacoba permaneceu até os últimos momentos ao lado do amigo querido. Frei Elias, o Vigário de São Francisco, entregou o corpo do santo para que a distinta senhora pudesse contemplar melhor aquele que se tornara imagem de Cristo aqui na terra. Disse-lhe o Frei Elias: “Eis aqui, toma nos braços, depois de morto, aquele a quem amaste quando vivo” (3Celano 39,1b). E Tomás de Celano afirma que ela, afastando o sudário, viu as cinco chagas de Cristo esculpidas na carne do bem-aventurado pai, e que esta contemplação trouxe-lhe grande consolação.
São Boaventura nos conta que São Francisco, em certa ocasião, passando por Roma, deixou um cordeirinho aos cuidados da Senhora Jacoba, e que “o cordeiro, como se tivesse sido instruído pelo santo nas coisas espirituais, ligou-se à senhora como companheiro inseparável quando ela ia à igreja, quando lá permanecia e quando retornava” (LM 8,7).
Quando visitamos o sepulcro de São Francisco, podemos ver na mesma cripta o lugarzinho onde estão os restos mortais desta santa mulher tão dedicada ao Pobrezinho
                                                                        Praxedes
O Frei Tomás de Celano também nos informa que São Francisco foi amigo de uma eremita romana, chamada Praxedes. Era uma mulher que vivia na reclusão de uma pequena cela, dedicando-se dia e noite à oração, ao silêncio e à penitência.
No Tratado dos Milagres, Celano fala brevemente sobre esta mulher e de sua relação com o seráfico pai:
“Praxedes era muito famosa, tanto entre as religiosas de Roma quanto em todo o território romano, porque desde a mais tenra idade, por fidelidade para com seu Esposo eterno, se recolhera numa cela estreita, já passados quase quarenta anos. Mereceu o privilégio de uma santa familiaridade para com São Francisco. O que este não fizera a nenhuma outra mulher, fez com ela, aceitando-a à obediência e concedendo-lhe, por piedoso devotamento, o hábito religioso, isto é, a túnica e o cordão”. (3Celano 181, 1-2).
Certo dia, sofrendo uma terrível queda, Praxedes teve vários ossos quebrados, ficando praticamente paralisada sobre o chão. Como a eremita não queria renunciar de nenhuma maneira o seu voto de perpétua clausura, mesmo sendo aconselhada por um cardeal, não aceitou a presença de outras pessoas que pudessem socorrê-la.
Então ela voltou-se para São Francisco e implorou o seu auxílio: “Ó santíssimo Pai meu, que em toda parte socorres com bondade às necessidades de tantos, que nem sequer conhecias quando vivo, por que não vens em auxílio desta infeliz, que, mesmo que indignamente, teve o privilégio da tua amizade, enquanto vivias? Realmente, faz-se necessário, como vês, ó Pai, ou mudar o meu voto, ou, então, sofrer o juízo da morte”. (3Celano 181, 8-9). Depois deste lamento, ela caiu num sono profundo e viu São Francisco que vinha até ela, dizendo: “Levanta-te, filha bendita, não temas! Recebe o dom da completa saúde e conserva inviolável o teu voto”. (3Celano 181, 11b-12). Assim, quando ela acordou, percebeu que estava totalmente curada, e pôde levantar-se e andar como antes.
Esta amizade, mesmo que descrita de forma muito breve por Tomás de Celano, parece ter sido intensa. Esta conclusão é confirmada pelas fortes expressões utilizadas pelo autor: “Mereceu o privilégio de uma santa familiaridade para com São Francisco”; e “Por que não vens em auxílio desta infeliz, que, mesmo que indignamente, teve o privilégio da tua amizade, enquanto vivias?”.
Através destes relatos podemos enxergar um santo que não teve medo dos mais nobres sentimentos humanos. Já estando liberto dos apegos egoístas, pôde cultivar nobres amizades que alegraram seu espírito até mesmo nos seus últimos instantes.

 Frei Salvio Romero, eremita capuchinho.